O Médico pode Optar pelo Lucro Real? Será que deve?
|

O Médico pode Optar pelo Lucro Real? Será que deve?

A escolha do regime tributário é uma das decisões mais importantes na gestão financeira de uma clínica ou consultório médico. Entre as opções disponíveis, Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, muitos profissionais se perguntam se vale a pena migrar para o Lucro Real, especialmente quando o faturamento começa a crescer.

No episódio #03 do GuiaConsultório, o especialista em contabilidade para médicos Bruno Nascimento explica de forma prática e direta quando o Lucro Real pode ser considerado, e por que, na maioria dos casos, não é o regime mais vantajoso para médicos.

Entendendo o que é o Lucro Real

O Lucro Real é o regime tributário mais detalhado e complexo do sistema brasileiro. Nele, os impostos são calculados com base no lucro líquido efetivo da empresa, após a dedução de todas as despesas comprovadas, como folha de pagamento, aluguel, manutenção, equipamentos e insumos.

A tributação incide sobre o que a empresa realmente lucrou, e não sobre uma estimativa, como ocorre no Lucro Presumido. Por isso, o Lucro Real costuma ser escolhido por empresas com altos custos operacionais e margens de lucro pequenas, como supermercados, indústrias e redes de varejo.

“O Lucro Real normalmente não faz sentido no mundo médico, porque ele é pensado para empresas com lucratividade muito pequena. O médico, em geral, tem margem alta e poucos custos fixos”, explica Bruno.

Sistema de Gestão para clínicas.

Por que o Lucro Real não é ideal para a maioria dos médicos

Na área da saúde, a maior parte do faturamento vem do serviço intelectual e técnico do próprio profissional. Um cirurgião, por exemplo, pode cobrar R$ 10 mil ou R$ 15 mil por um procedimento, mas os custos associados a esse serviço, como aluguel de sala, honorários de equipe e materiais, costumam representar uma fatia pequena desse valor.

Isso significa que o lucro líquido do médico é alto, muitas vezes acima de 40% ou 50%.
E no Lucro Real, quanto maior o lucro, maior é a base de cálculo dos impostos, o que acaba tornando o regime menos vantajoso em comparação com o Lucro Presumido.

Além disso, o Lucro Real exige contabilidade muito mais complexa, com registros detalhados, controles mensais de estoque, apuração de créditos e débitos de impostos e entrega de diversas obrigações acessórias. Para clínicas que não têm uma estrutura administrativa robusta, isso pode gerar mais custos e burocracia do que benefícios.

Lucro Presumido: o modelo que faz mais sentido para a maioria das clínicas

O Lucro Presumido continua sendo o regime mais indicado para médicos e clínicas com margens elevadas.

Nesse modelo, a Receita Federal presume uma margem fixa de lucro de 32% sobre o faturamento para atividades de prestação de serviços de saúde. Os impostos são calculados sobre essa base, e não sobre o lucro efetivo.

Na prática, isso torna o processo mais simples e previsível, além de permitir uma carga tributária menor para quem tem lucro real acima dessa média.

“Se o médico tem uma margem de 50% ou 60%, o Lucro Presumido será sempre mais vantajoso, porque ele paga imposto sobre 32%, e não sobre o total que realmente ganha”, reforça Bruno.

Outro ponto positivo é que o Lucro Presumido oferece maior estabilidade: como as alíquotas são fixas e a apuração é trimestral, o médico consegue planejar melhor os pagamentos e evitar surpresas no fluxo de caixa.

Quando o Lucro Real pode ser uma boa estratégia

Apesar de não ser o regime ideal na maioria das situações, o Lucro Real pode fazer sentido em momentos específicos, principalmente quando o médico ainda não está obtendo lucro.

Isso é comum em fases de implantação ou expansão de clínicas, quando há altos investimentos com reformas, compra de equipamentos, softwares, mobiliário e divulgação.
Nesse cenário, as despesas podem superar o faturamento, e como o Lucro Real permite compensar prejuízos e deduzir todos os custos operacionais, o médico acaba pagando menos imposto temporariamente.

“No primeiro ano da clínica, com muitos gastos e pouco lucro, o Lucro Real pode fazer sentido. Mas quando a operação se estabiliza e a margem cresce, ele deixa de ser vantajoso”, explica Bruno.

Portanto, o Lucro Real pode ser útil como estratégia de curto prazo, até que a clínica atinja um ponto de equilíbrio e passe a lucrar de forma consistente.

O impacto da escolha do regime tributário na rentabilidade da clínica

A escolha do regime tributário afeta diretamente a rentabilidade líquida da clínica e o valor que o médico efetivamente recebe.
Optar por um regime inadequado pode representar perdas mensais significativas, especialmente em negócios com faturamento elevado.

Por isso, Bruno reforça a importância de avaliar os números com frequência. O regime tributário ideal hoje pode não ser o mais vantajoso no futuro, principalmente se houver mudanças no faturamento, na estrutura de custos ou na forma de atuação — como a contratação de mais profissionais ou a abertura de novas unidades.

Ter um contador especializado em saúde é essencial para realizar simulações periódicas, comparar cenários e garantir que a clínica está enquadrada no modelo mais eficiente do ponto de vista fiscal e estratégico.

Lucro Real x Lucro Presumido x Simples Nacional: como decidir?

  • Simples Nacional: ideal para clínicas menores, com faturamento até R$ 4,8 milhões anuais. Tem guia unificada e administração simplificada, mas alíquotas progressivas que podem pesar conforme o crescimento do faturamento.
  • Lucro Presumido: indicado para médicos e clínicas com margens altas e estrutura estável. Oferece previsibilidade e menor carga tributária para quem realmente lucra mais que 32%.
  • Lucro Real: vantajoso apenas para negócios com margens muito pequenas ou períodos de prejuízo. Exige contabilidade completa, maior controle e custo operacional mais elevado.

“No mundo médico, o Lucro Presumido quase sempre é o caminho mais eficiente. O Lucro Real serve para exceções, e o Simples é um bom ponto de partida para quem está começando”, resume Bruno.

O papel do planejamento tributário contínuo

Um erro comum entre médicos é escolher o regime tributário e mantê-lo por anos sem reavaliação.

No entanto, o planejamento tributário deve ser dinâmico. Com o apoio do contador, é importante revisar periodicamente os dados financeiros, simular novos enquadramentos e ajustar a estratégia de acordo com o crescimento do negócio.

Esse acompanhamento permite evitar pagamentos desnecessários, aproveitar benefícios legais e manter a clínica sempre em conformidade com a Receita Federal. Mais do que reduzir impostos, o planejamento tributário inteligente aumenta a previsibilidade e a segurança financeira da operação.

O Lucro Real é exceção, não regra

O Lucro Real é um regime sofisticado e necessário para determinados tipos de empresa, mas, na área médica, ele é a exceção.
Com margens de lucro geralmente elevadas e poucos custos operacionais, os médicos tendem a se beneficiar muito mais com o Lucro Presumido, que combina eficiência fiscal, simplicidade e previsibilidade.

O Lucro Real só se justifica em situações pontuais, como o início da clínica ou períodos de alto investimento.
Fora disso, ele tende a gerar mais impostos, mais burocracia e menos resultado líquido.

“No final das contas, o melhor regime é aquele que faz o médico dormir tranquilo, com impostos pagos corretamente e lucro saudável no bolso”, conclui Bruno Nascimento.

Sistema de Gestão para clínicas.

Histórias recentes

Aumente sua Visibilidade, Agende mais consultas e conquiste novos pacientes!

Crie sua identidade online, tenha seu perfil em destaque no BoaConsulta e indexado por buscadores como Google e uma série de serviços para auxiliar no dia a dia de seu consultório como telemedicina, receita digital, agendamento online, prontuário eletrônico, dentre outros, saiba mais!

Posts recomendados