Como a Receita Federal Cruza Informações para Detectar Ilegalidades?
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Como a Receita Federal Cruza Informações para Detectar Ilegalidades?

Com o avanço da tecnologia, a Receita Federal deixou de ser um órgão que atua apenas de forma reativa, hoje, ela opera de maneira preventiva e automatizada, cruzando dados de diferentes sistemas financeiros, bancários e fiscais para identificar inconsistências.

No caso dos médicos e profissionais da saúde, o controle é ainda mais rigoroso. Isso porque o setor movimenta valores altos e gera informações que envolvem tanto pessoas físicas (pacientes) quanto jurídicas (clínicas, hospitais e convênios).

O contador e especialista em contabilidade médica Bruno Nascimento explica que “a Receita já tem acesso a praticamente tudo o que entra e sai da sua conta — ela só cruza os dados para confirmar se está tudo coerente”.

Entenda, a seguir, como esse cruzamento acontece na prática, quais são os sistemas usados pela Receita e o que o médico precisa fazer para manter tudo em conformidade.

A Era da Transparência Fiscal

Há poucos anos, era possível operar parte da receita “por fora” sem que a Receita Federal percebesse.

Hoje, isso é praticamente impossível. O Brasil implementou um dos sistemas fiscais mais integrados do mundo, conectando bancos, operadoras de cartão, planos de saúde, operadoras de Pix e órgãos de classe, como o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Toda movimentação financeira é digitalizada, registrada e compartilhada com o governo por meio de diferentes plataformas, conhecidas como obrigações acessórias.
Esses dados são então analisados por algoritmos que comparam o que você declarou com o que você movimentou.

“A Receita não precisa pedir acesso à sua conta para saber quanto entrou. Ela já recebe essas informações automaticamente dos bancos e empresas financeiras”, explica Bruno.

Sistema de Gestão para clínicas.

E-Financeira: o “olho eletrônico” da Receita Federal

O primeiro e mais importante instrumento de monitoramento é a e-Financeira.
Ela é uma obrigação imposta a todas as instituições financeiras, bancos, corretoras, fintechs, cooperativas de crédito, que precisam enviar periodicamente ao governo um relatório com as movimentações de cada cliente.

Bruno explica:

“Movimentações acima de R$ 2 mil em contas de pessoa física e acima de R$ 5 mil em contas de pessoa jurídica são automaticamente informadas à Receita.”

Isso significa que, mesmo sem fiscalização formal, a Receita já sabe se o médico movimentou mais dinheiro do que declarou em seu Imposto de Renda ou no CNPJ do consultório.

Esses dados incluem:

  • Entradas e saídas via Pix, TED, DOC, boleto e cartão;
  • Saldos médios e aplicações financeiras;
  • Movimentações de contas conjuntas e empresariais.

Se houver diferença significativa entre o faturamento declarado e o total movimentado, o sistema aciona um alerta interno que pode gerar uma investigação.

DMED: o cruzamento entre o médico e o paciente

Poucos profissionais sabem, mas cada nota fiscal ou recibo emitido por um médico é declarado para a Receita Federal através da DMED (Declaração de Serviços Médicos e de Saúde).

Essa declaração é obrigatória para clínicas, consultórios, hospitais e profissionais liberais que prestam serviços de saúde. Ela serve para cruzar as informações entre médico e paciente.

Funciona assim:

  • O paciente declara no Imposto de Renda que pagou R$ 500 por uma consulta.
  • A Receita verifica se o médico declarou o mesmo valor recebido.
  • Se o paciente declarou, mas o médico não, o sistema detecta a divergência e acende um alerta.

“Muitos médicos descobrem o problema quando o próprio paciente cai na malha fina, e o motivo é a falta da declaração da DMED”, explica Bruno.

Esse cruzamento é automático e acontece todos os anos durante o processamento das declarações de Imposto de Renda.

DIRF: quando o cartão de crédito “te delata”

A DIRF (Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte) é outra ferramenta de controle.
As operadoras de cartão como Visa, Mastercard, Cielo e Rede informam à Receita quanto cada CNPJ movimentou em vendas com cartão de crédito e débito.

Esses dados são comparados com o faturamento declarado na empresa do médico.

“Se a Receita vê que a maquininha registrou R$ 2 milhões em vendas, mas o CNPJ declarou apenas R$ 800 mil, ela entende que há irregularidade. E a fiscalização é imediata”, comenta Bruno.

Além disso, os convênios e hospitais também declaram o quanto pagaram a cada prestador, o que permite um novo cruzamento entre pagador e recebedor.

Pix e o Banco Central: o novo elo da fiscalização

O Pix revolucionou os pagamentos, mas também trouxe total rastreabilidade das transações.
Cada pagamento feito por Pix passa obrigatoriamente pelo Banco Central, que mantém registros detalhados de quem enviou, quem recebeu, valores e datas.

Essas informações são compartilhadas com a Receita Federal por meio de relatórios automáticos, formando um dos cruzamentos mais poderosos do sistema.

Bruno explica de forma simples:

“Pense no Pix como um triângulo: o dinheiro sai da conta do paciente, passa pelo Banco Central e só depois chega na sua conta. O Banco Central é o vizinho direto da Receita Federal — eles compartilham informações o tempo todo.”

Em outras palavras, se o médico declara um faturamento anual de R$ 300 mil, mas movimenta R$ 1 milhão via Pix, o sistema rapidamente identifica a discrepância e pode abrir uma fiscalização.

Diferenças pequenas x discrepâncias graves

A Receita Federal não atua de forma punitiva diante de pequenas diferenças, como valores que caíram em meses diferentes ou arredondamentos. O problema surge quando há incompatibilidade consistente entre o volume financeiro e o que foi declarado.

“A Receita não vai questionar um erro de R$ 200, mas se você emite R$ 20 mil em notas e movimenta R$ 80 mil todo mês, uma hora o alerta vem”, adverte Bruno.

Esses casos são classificados como omissão de receita, o que pode gerar multa de até 150% do valor sonegado, além de outras penalidades.

Como o Médico Pode se Proteger

A boa notícia é que é totalmente possível evitar problemas com o fisco, desde que haja organização e transparência.

Bruno destaca três pilares fundamentais para quem quer atuar de forma segura:

  1. Separar contas pessoais e empresariais — cada CNPJ deve ter sua própria conta bancária.
  2. Emitir notas fiscais de todos os serviços — independentemente de quem seja o pagador.
  3. Manter o apoio de uma contabilidade especializada em profissionais de saúde — que entenda as particularidades do setor e saiba orientar sobre obrigações acessórias, prazos e regimes tributários.

Além disso, vale acompanhar de perto o próprio extrato de declarações no portal e-CAC da Receita Federal, onde é possível verificar eventuais pendências ou inconsistências antes que virem problemas.

A Receita Federal Não “Vai Atrás” — Ela Já Está Lá

Antigamente, muitos médicos acreditavam que só seriam fiscalizados mediante denúncia ou mandado judicial.

Hoje, isso mudou completamente. O cruzamento de dados é preventivo e automatizado, o sistema detecta irregularidades e aciona o alerta antes mesmo de uma análise humana.

“O fisco não precisa mais ir atrás de você — ele já está dentro do sistema. Por isso, fazer tudo certo desde o início é o caminho mais fácil e seguro”, conclui Bruno.

Transparência é o Melhor Escudo

A Receita Federal está cada vez mais integrada e precisa de poucos cliques para descobrir inconsistências. No entanto, o objetivo da fiscalização não é punir, mas garantir justiça fiscal e evitar fraudes.

Para o médico, atuar com transparência é a melhor forma de proteger sua carreira e seu consultório.

Emitir notas, declarar reembolsos corretamente e registrar todas as receitas não são apenas obrigações, são práticas que garantem credibilidade profissional e tranquilidade financeira.

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