Existem Tipos de Impostos que Variam Dependendo do Segmento Médico?
Quando o assunto é tributação na área da saúde, muitos médicos têm dúvidas sobre como funcionam os impostos e se há diferenças entre especialidades, como dermatologia, cirurgia plástica, odontologia ou fisioterapia.
No episódio #03 do GuiaConsultório, o especialista em contabilidade para médicos Bruno Nascimento esclareceu de forma direta e didática que a diferença não está no tipo de serviço médico, mas sim no regime tributário adotado por cada profissional.
Todos os profissionais da saúde seguem a mesma base tributária
Segundo Bruno, a Receita Federal considera os profissionais da saúde dentro de um mesmo grupo de atividades. Isso significa que médicos, dentistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros especialistas seguem a mesma metodologia de tributação.
O que muda não é o segmento, mas o regime tributário escolhido pela empresa, e é justamente aí que mora o segredo de uma boa gestão fiscal. O profissional pode optar, de acordo com o faturamento e a estrutura do consultório, pelo Simples Nacional ou pelo Lucro Presumido, cada um com regras, vantagens e desafios próprios.
Simples Nacional: praticidade e unificação de impostos
O Simples Nacional é o regime mais indicado para clínicas e profissionais que estão começando ou que possuem faturamento mensal de até R$ 40 mil (ou cerca de R$ 480 mil anuais).
Esse modelo foi criado para simplificar o pagamento de tributos, unificando diferentes impostos em uma única guia chamada DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional).
De acordo com Bruno, esse é um dos grandes benefícios do regime: a praticidade administrativa. Em vez de lidar com várias datas e diferentes guias, o médico precisa se preocupar apenas com um único pagamento mensal.
“Eu sempre falo para o doutor: o único dia do mês que você precisa marcar no calendário é o dia 20. É quando vence a guia do Simples. Se não tiver nenhuma guia para pagar, tem algo errado”, brinca Bruno.
Dentro do DAS, já estão incluídos tributos como PIS, COFINS, Imposto de Renda (IRPJ), Contribuição Social (CSLL), ISS e INSS, o que torna a rotina contábil muito mais simples e previsível.
Lucro Presumido: um passo à frente para clínicas com maior faturamento
Quando o faturamento ultrapassa cerca de R$ 40 mil a R$ 50 mil por mês, o regime do Simples pode deixar de ser a melhor opção. Nesse ponto, muitos consultórios migram para o Lucro Presumido, que pode resultar em uma carga tributária mais baixa dependendo do tipo de serviço e das despesas da clínica.
No entanto, essa mudança traz um desafio: o aumento da complexidade administrativa.
Diferentemente do Simples Nacional, o Lucro Presumido não concentra os impostos em uma única guia. Bruno explica que, nesse regime, o profissional passa a lidar com várias obrigações separadas, como guias de PIS, COFINS, IRPJ, CSLL, ISS e INSS, cada uma com datas específicas de vencimento.
“No Simples, você paga uma guia. No Lucro Presumido, passa a pagar sete. Uma de PIS, outra de COFINS, outra de IR, e assim vai. Cada uma tem sua data: dia 10, 25, 30… É um verdadeiro quebra-cabeça”, comenta.
Mesmo com a rotina mais trabalhosa, ele ressalta que o Lucro Presumido pode representar uma economia significativa, especialmente para clínicas com bom faturamento e estrutura organizada. A escolha, no entanto, deve ser feita com apoio contábil e planejamento detalhado, considerando os números reais do negócio.
O impacto da organização financeira na rotina médica
Para Bruno, um dos erros mais comuns dos médicos empreendedores é priorizar a praticidade em detrimento da economia.
Há casos de profissionais que preferem continuar no Simples Nacional apenas para evitar o trabalho de gerenciar várias guias, mesmo que isso signifique pagar milhares de reais a mais por mês em impostos.
“Tem médico que fala: ‘Prefiro pagar R$ 5 mil a mais no Simples só para ter uma guia’. Eu falo: ‘Doutor, pelo amor de Deus! Eu te ajudo na gestão, a gente manda alerta por WhatsApp, Pix, tudo. Hoje não tem desculpa para pagar mais imposto por preguiça’”, relata Bruno com bom humor.
Com a tecnologia disponível atualmente, é possível automatizar lembretes, gerar boletos de forma digital e até pagar os tributos por Pix. Assim, a transição para o Lucro Presumido não precisa ser um fardo, basta organização e acompanhamento contábil constante.
Como escolher o regime ideal para o seu consultório
Definir o regime tributário mais vantajoso não depende apenas do faturamento. É preciso avaliar uma série de fatores, como custos fixos, folha de pagamento, despesas operacionais e margem de lucro.
Enquanto o Simples Nacional oferece mais praticidade, o Lucro Presumido pode ser financeiramente mais vantajoso para quem já possui uma estrutura consolidada.
Por isso, a decisão deve ser feita com o apoio de um contador especializado na área da saúde, que entenda as particularidades das atividades médicas e saiba interpretar os números com olhar estratégico. Um bom planejamento tributário pode representar uma economia considerável no fim do ano e ajudar o consultório a crescer de forma saudável.
Conhecimento tributário é parte da gestão médica
Entender como os impostos funcionam não é apenas uma obrigação burocrática é uma ferramenta de gestão e sustentabilidade financeira. Saber quando e como mudar de regime tributário, compreender o impacto de cada imposto e manter uma rotina organizada permite que o médico dedique mais tempo ao que realmente importa: cuidar dos pacientes e fazer o consultório prosperar.
Como reforça Bruno Nascimento, todos os profissionais da saúde estão sob as mesmas regras tributárias, mas quem entende as opções e escolhe com estratégia paga menos e administra melhor.
Com planejamento, acompanhamento e um bom contador ao lado, é possível transformar a contabilidade em uma aliada do sucesso profissional
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